A Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP, na sigla em inglês) definiu que 2023 será o ano global para tratamento integrativo da dor. Segundo a entidade, por conta da crise de opioides que afetou pessoas em muitos países, a ideia da campanha que se desenrolará durante todo o ano é contribuir para a conscientização de médicos, cientistas e do público em geral sobre o uso de uma abordagem integrativa de tratamento da dor, para além do uso de medicamentos.
A IASP afirma que o objetivo da conscientização é ajudar milhões de pessoas que sofrem de dor crônica em todo mundo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 30% da população mundial sofra com alguma dor crônica. No Brasil, de acordo com informações da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor (SBED), esse também é o percentual do número de brasileiros que se queixa de alguma dor.
Segundo a SBED, a dor crônica, que conceitualmente é aquela que costuma persistir acima de três meses, acomete um entre cinco adultos, atinge mais mulheres, se apresenta durante trabalhos extenuantes ou naqueles pacientes com menores níveis de escolaridade. Além disso, a dor crônica não tem utilidade biológica, ou seja, não costuma ser o alarme para algum tipo de problema, apesar de ter outros sintomas associados. É diferente da dor aguda, considerada biologicamente benéfica.
E nos protocolos para tratamento de dor, há várias opções de terapias e remédios que são recomendadas de acordo com a natureza da dor e histórico do paciente. De acordo com a fisioterapeuta Michelle Janelli Buarque de Macedo do Amaral, uma das ferramentas importantes dentro da abordagem integrativa do tratamento da dor é a crochetagem. Segundo ela, a técnica possibilita o tratamento do fator causador da dor e vem alcançando importantes resultados.
Com mais de 15 anos de experiência no uso dessa técnica, a profissional explica que a partir do primeiro atendimento, já é possível ver bons resultados e até alívio imediato da dor. “É claro que durante um tratamento fisioterapêutico esta não será a única técnica utilizada, outras formas e técnicas de tratamento serão associadas, porém a crochetagem tem grande importância para se alcançar os objetivos, incluindo a redução do tempo de tratamento”, ressalta.
O que é e como funciona a crochetagem?
A fisioterapeuta Michelle do Amaral explica que a crochetagem, também conhecida como liberação miofascial instrumental, é uma técnica de terapia manual que utiliza um gancho (chamado de crochet em francês) como ferramenta de tratamento. Com o gancho, é possível promover a quebra de aderências e fibroses entre os diferentes planos de deslizamento de músculos, fáscias, tendões, ligamentos, nervos e articulações, devolvendo a mobilidade e função da área tratada, além de gerar aumento da circulação sanguínea e da circulação linfática.
“É a técnica de terapia manual que mais utilizo como recurso no tratamento de aderências, fibroses, pontos de tensão e dor, incluindo a cefaleia. Também tem um efeito reflexo de relaxamento, especialmente nas regiões de “trigger points” ou pontos gatilhos, onde ajuda a dissolver os cristais de oxalato de cálcio que ficam retidos nos músculos causando nódulos dolorosos de tensão”, comenta a profissional.
Michelle do Amaral complementa que a técnica da cochetagem também pode ser usada de forma preventiva, especialmente em atletas, para evitar o aparecimento de lesões decorrentes dos treinos intensos. “Além disso, as principais indicações são para aderências e fibroses cicatriciais, tendinites, epicondilites, fascite plantar, esporão, síndrome do túnel do carpo, artrose, capsulites, canelite, entre tantas outras que podem ser aplicadas conforme avaliação do fisioterapeuta capacitado na técnica”, diz.
Contraindicações: A profissional ressalta que as contraindicações para o uso da crochetagem são as mesmas indicadas para qualquer tratamento manual. A técnica não é indicada, por exemplo, quando há feridas na pele, queimaduras, inflamação aguda, fragilidade muscular e trauma recente. “É importante ter sempre uma atenção especial aos idosos pela fragilidade da pele e respeitar o limite de dor do paciente”, completa.