Rendas e bordados brasileiros ganham reconhecimento

Rendas e bordados brasileiros ganham reconhecimento

Com o ano de 2025 sendo declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional das Cooperativas, sob o tema “Cooperativas Constroem um Mundo Melhor”, a conscientização sobre o papel das cooperativas e associações no avanço do desenvolvimento social e econômico geral do país, seguindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, volta aos holofotes.

Dentro desse universo, cooperativas têxteis atuam para salvaguardar e difundir técnicas tradicionais de suas regiões, muitas vezes reconhecidas como patrimônios imateriais culturais brasileiros, inspirando artistas e designers em suas criações, além de apresentar essas práticas às novas gerações. Além do repasse geracional, ações promovidas por associações, instituições independentes, criam condições de aprimoramento técnico e métodos de cálculo da remuneração da produção das artesãs, uma vez que a maioria das profissionais da área são mulheres.

“São elas que desempenham o trabalho artesanal, doméstico, de cuidado dos seus filhos, da casa e, em muitas situações, o cultivo do roçado e a criação de animais, tudo ao mesmo tempo. O ofício dessas mães e avós, além de renda, gera pertencimento e potencial criativo, muito influenciado pelos recursos e natureza locais”, comenta a pesquisadora e organizadora do livro “Têxteis do Brasil: Rendas e Bordados”, Helena Kussik. Lançada em março desse ano pela Artesol, ONG que atua pela valorização do artesanato tradicional brasileiro há mais de 25 anos, a obra ilustrada documenta as histórias por trás de nove técnicas têxteis tradicionais do país – Bordado Boa Noite; Bordado Redendê, Bordado Filé e Bordado Labirinto; Renda Singeleza; Renda Renascença; Renda Irlandesa; e as Rendas de Bilro do Trairi e do Cariri.

Mas a atuação das associações e cooperativas nos municípios vai além da transmissão dos conhecimentos para as novas gerações: passa pela aquisição e melhorias nos imóveis em que estão sediadas, por processos de capacitação em gestão, produção e criação de produtos, além de assessoria nos processos de reconhecimento das técnicas trabalhadas – como foi o caso da Renda Irlandesa, que teve seu reconhecimento como Patrimônio Cultural Nacional em 2009 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e o registro de Indicação Geográfica (IG) em 2012 pelo Sebrae e pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) com a ajuda da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa em Divina Pastora (Asderen).

Além da Renda Irlandesa, outras quatro técnicas têxteis também adquiriram títulos: Bordado Boa Noite e Bordado Filé (patrimônios imateriais de Alagoas); Bordado Labirinto e Renda Renascença (patrimônios imateriais da Paraíba). Atualmente, a Renda Singeleza, natural do estado de Alagoas, está em processo de instrução para registro no IPHAN.

Somando-se a essa onda de reconhecimento patrimonial, o interesse pelas rendas e bordados, tanto do lado dos pesquisadores, quanto de profissionais do design e da moda também crescem. Nas semanas de moda dos últimos anos, criações de estilistas como Isa Isaac Silva (Isaac Silva), Flavia Aranha, Ronaldo Fraga, Celina Hissa (Catarina Mina), Antônio Castro (Foz), Lu Azevedo (Morada), ganharam as passarelas e o gosto popular.

As criações colaborativas da Foz junto à ONG Inbordal, responsável pela emissão do selo de Indicação Geografica Região das Lagoas Mundaú-Manguaba para o bordado Filé, já estamparam capas de revistas de moda do país e foram desfiladas na São Paulo Fashion Week de 2023. Outro exemplo da parceria entre associações e marcas de vestuário é o Olê Rendeiras, que começou como projeto coordenado pela Catarina Mina em 2019 e, em 2022, desdobrou-se em uma das maiores associações do Ceará, com mais de 170 rendeiras participantes.

Serviço:
Livro “Têxteis do Brasil: Rendas e Bordados”
Editora: Artesol
Sinopse: “Têxteis do Brasil: Rendas e Bordados” é um mergulho na riqueza das práticas têxteis tradicionais, destacando técnicas como Renda Renascença, Renda Irlandesa, Bordado Filé, Renda Singeleza, Bordado Labirinto, Bordado Redendê, Bordado Boa Noite e Renda de Bilros. Com organização e pesquisa de Helena Kussik, textos técnicos de Bianca Matsusaki, ilustrações de Camila do Rosário e fotografias de Nathália Abdalla, o livro resulta de uma extensa pesquisa de campo em comunidades de artesãs. A obra não apenas documenta essas técnicas, mas valoriza as histórias e a resistência das mulheres que mantêm vivas essas tradições. Com um olhar antropológico e artístico, apresenta os têxteis como expressões culturais dinâmicas, conectadas à identidade, à economia criativa e à coletividade.