Parte I – O que contribui para sua e a felicidade do outro
Estruturas sociais e interesses individualizados têm levado a bancarrota muitas iniciativas de tornar a vida das pessoas dentro da empresa mais plena, com uma gestão de suas gentes voltada para felicidade. Por alimentarmos ainda uma engrenagem conservadora, uma ética do viver fortemente ligada à satisfação imediata, é condescendente ou cooperado na tremenda confusão que existe entre sucesso e realização.
Conforme o conceito de Personalidade Autotélica, elaborado pelo psicólogo norte-americano Mihály Csíkszentmihályi, a realização vem de dentro, e se orienta para um fim que o próprio indivíduo se coloca. Já no que diz respeito ao sucesso, o indivíduo está orientado para o lado de fora, o exterior, aquilo que socialmente acreditamos impressionar os que nos cercam.
Já que o sucesso é uma coisa de dentro para fora e a trajetória da felicidade, um bem extremamente relacionado com nosso interior e a nossa capacidade de nos auto-realizarmos, a jornada tem se dado de forma muito frustrante em todos os seres. Pessoalmente e também corporativamente temos empregado muito mais energia em valores que são incontornáveis para nossa vida e para a vida dos que compartilhamos como uma busca da realização apenas nos aspectos materiais, ascensão a qualquer preço, profissões apenas por sua remuneração no mercado, grupinhos de tomada de decisão na empresa para defender uma zona de conforto, frequentar ambientes por pura obrigação social. O dinheiro tem estado na ordem de prioridades como número um e fechado as portas de muitas coisas bonitas que poderiam e podem acontecer quando pessoas se reúnem para o fazer, que é o caso da Gestão de Pessoas.
Resta-nos servir para amar e evitar se servir para não se apegar, a primeira obstrução para ser feliz. Hoje tudo nos promete felicidade. O novo micro ondas nos promete felicidade num cozinhar dos deuses, o carro com tecnologia avançadíssima promete que nunca nos deixará na mão, a banda larga nos promete felicidade, porque vamos voar ao invés de navegar, a jóia promete a felicidade de encantar alguém que amamos e o presente promete a felicidade de ocupar o vazio que deixamos em não estar mais presente com nossos filhos. E cada vez que compramos estas felicidades, mais nos obrigamos a comprar mais, pois falecem com a mesma intensidade que chegam pela razão de sua efemeridade.
Felicidade se dá no fluxo, em alguns momentos fugazes como aqueles que temos praticado, que no primeiro vento, lá se foi à felicidade se escapando pelas nossas mãos. Outros fluxos são aqueles consistentes, que perduram no seu ato, consolidam-se na sua atitude e ficam memorizados em nossas mentes, como é o caso de servir para amar. Se não me dou conta que é esse servir, esse desapego das minhas satisfações imediatas, que me conduzem para um fluxo mais permanente de felicidade. Violando-me incessantemente e me auto-iludindo com essas artimanhas da coisificação dos sentimentos em algum momento se dará o conflito emocional.
De uma forma ou de outra, mesmo não desejado, a vida é pontual em relação ao desapego. Dá sinais, manda recados e se não executados, ela mesmo se encarrega da correção. A vida não é cruel, mas é justa e os justos não perdoam, educam. Uma Gestão de Pessoas com fins de liderança educativa, ela há de se incomodar e comportar-se conforme a natureza, educando em direção do desapego, no servir para amar.
É da responsabilidade do gestor, principalmente dele, estar atento que os sujeitos do seu grupo estejam realizando entre si um adquirido, um vivido, um convivido, um duradouro. Sem medo, estejam alimentando e sendo alimentados dos seus e dos princípios de todos, das suas e das crenças de todos, dos seus e dos propósitos de todos, dos seus e dos sonhos de todos. Não temos o direito de encarcerar nem o que é nosso muito menos o que é do outro. Nada nos pertence, só essa vontade de não possuir nada. Ser livre é o maior sucesso que todos desejamos atingir. Mas não se apegar é um exercício diário, um vencer a si mesmo.
Paulo Ricardo Silva Ferreira
Educador Facilitador. Presidente do Instituto Eckart Desenvolvimento Humano e Organizacional. Doutor em Ciências Empresariais pela Universidade de Leon/Espanha, administrador de empresas, curso de psicologia, pós-graduado em administração hospitalar. Professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação. Consultor em estratégia empresarial, desenvolvimento organizacional (DO), comportamento, mudança intervencionista e inteligência empresarial da Eckart Consultoria. Presidente da Fundação dos Administradores do Rio Grande do Sul. Palestrante nacional destacado pela abordagem multidimensional das organizações, abordando temas como valores humanos, ética, comportamento e desenvolvimento humano continuado e pensamento estratégico.
Redator: Sander Machado
Profissional de comunicação, redator. Coordenador do Núcleo Celebração do Instituto Eckart. Diretor Criativo da ILê Comunicação. Entre outros prêmios já conquistou Top Nacional de MARKETING ADVB, ESPM/RS, Mérito Lojista, ANAMACO e Central Outdoors.